Uma raposa passou por um souto e sentiu piar um mocho; disse ella para si:
— Ceia já eu tenho.
E foi muito sorrateira trepando pelo castanheiro em que estava piando o mocho, e filou-o.
O mocho conheceu a sorte que o esperava, e viu que não podia livrar-se da raposa sem ser por ardil. Disse então para ella:
— Oh raposa, não me comas assim como qualquer frango d’esses que furtas pelos gallinheiros; tu tambem sabes andar á caça de altanaria, e é preciso que todos o saibam. Agora que me vás comer grita bem alto: «Mocho comi!»
A raposa levada por aquella vaidade, gritou:
— Mocho comi!
— A outro sim, que nenja a mi! replicou-lhe o mocho caindo-lhe d’entre os dentes e voando pelo ár fóra livre de perigo.
(Airão.)
A coruja encontrou a aguia, e disse-lhe:
Oh aguia, se vires uns passarinhos muito lindos em um ninho, com uns biquinhos muito bem feitos, olha lá não m’os comas, que são os meus filhos.
A aguia prometteu que os não comia; foi voando e encontrou n’uma arvore um ninho de coruja, e comeu as corujinhas. Quando a coruja chegou e viu que lhe tinham comido os filhos, foi ter com a aguia, muito afflicta:
— Oh aguia, tu foste-me falsa, porque prometteste que não me comias os meus filhinhos, e mataste-m’os todos!