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CONTOS E PHANTASIAS
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ás vezes afundava-se, outras vezes immergia-se; e emquanto os escaleres voavam, o contra-mestre continuava a gritar, posto que as suas vozes já não pudessem ser ouvidas pelos que iam em salvamento de Navarro.

Quando o vulto vinha a distancia de uma milha o contra-mestre exclamou, affirmando a vista:

— Ou eu me engano, ou o capitão não vem sósinho... esperem! é a Cigana que traz a reboque o patrão!...

Era a Cigana effectivamente. Quando o velho cahira ao mar, o animal atirara-se logo atrás, e mergulhando conseguira apertar nos dentes as roupas do capitão, e desde esse instante nunca mais o largára.

Quando os escaleres se aproximaram dos dous, a pobre Cigana estava quasi exhausta e sem forças.

Arrancaram-lhe a custo da boca o seu querido fardo e ella continuou a nadar frouxamente sem poder resistir ás ondas que a levavam de chofre de encontro aos escaleres.

Quiz subir, galgar a borda de um dos escaleres, e não pôde, resvalou na agua, ganindo dolorosamente, sendo preciso que um dos marinheiros a empolgasse com força, arrebatando-a assim á morte inevitavel.