Página:Contos fluminenses.djvu/242

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principio que sim, mas eu podia ter-me enganado; eu não tinha as feições do outro bem presentes à memoria; parecia-me que as duas creaturas erão uma e a mesma; mas não podia explicar-se o engano por uma semelhança miraculosa?

De reflexão em reflexão, foi-me correndo o tempo, e eu assistia á conversa de todos como se não estivesse presente. Veio a hora do chá. Depois cantou-se e tocou-se ainda. Emilio ouvia tudo com attenção religiosa e mostrava-se tão apreciador do gosto como era conversador discreto e pertinente.

No fim da noite tinha captivado a todos. Meu marido, sobretudo, estava radiante. Via-se que elle se considerava feliz por ter feito a descoberta de mais um amigo para si e um companheiro para as nossas reuniões de familia.

Emilio sahio promettendo voltar algumas vezes.

Quando eu me achei a sós com meu marido, perguntei-lhe:

— D’onde conheces este homem?

— É uma perola, não é? Foi-me apresentado no escriptorio ha dias; sympathisei logo; parece ser dotado de boa alma, é vivo de espirito e discreto como o bom senso. Não ha ninguem que não goste d’elle...

E como eu o ouvisse séria e calada, meu marido interrompeu-se e perguntou-me: