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Até onde lembro, foi uma existência monótona, repetitiva e, até certo ponto, segregária. Aulas na escolinha eram em sueco num período e em espanhol em outro. Supernormal

Finalmente, em meados de 1979, é declarada a anistia geral e irrestrita pelo Governo Brasileiro. Os ânimos de retornar ao Brasil ficaram fora de controle, e, em questão de poucos meses, em setembro, desembarcávamos no Rio de Janeiro como a primeira família de anistiados a chegar ao Brasil.

Que felicidade, que regojizo, estávamos, finalmente, de volta para casa. Mas a situação ainda levaria uns pares de anos para se estabilizar. No primeiro ano, ficamos retidos no Rio de Janeiro, pulando de casa em casa, vivendo de favor. Lembro que, em algum momento, vivemos em Niterói, e lembro bem da escola pública na qual fui matriculado. A comida era diferente, o idioma era diferente e fui sumariamente ridicularizado por não falar o idioma e pelo nome que tenho.

Depois de um ano, meus pais se cansaram do bloqueio de saída do Rio e foram para o Recife, de onde Francisco Julião e sua família eram naturais. Fomos viver numa casa na parte mais escondida, por trás da Universidade Federal em uma área semialagada chamada Várzea. Acredite, o nome fazia jus ao local.

Entre várias tentativas de emprego, decepções e muito aperto financeiro, as coisas só se estabilizaram em 1981, quando meu pai consegue trabalho fixo e legalizado no CEAG, predecessor do SEBRAE. Minha mãe só consegue emprego fixo e legalizado quatro anos mais tarde, na Fundação Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais.

Já estabelecidos no Recife, iniciamos o processo de repatriação, minha e de minha irmã. Afinal de contas, como filhos de um exilado político, tínhamos o direito de ser brasileiros. Não naturalizados, mas brasileiros natos. Nesse momento, depois de todos os documentos traduzidos, finalmente eu tinha duas nacionalidades. Agora era mexicano e brasileiro.

Em 1999, decidi me mudar. Deixei para trás Pernambuco e me autointitulei “paraíba”. Vim para trabalhar e conquistar mais.

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