pela manhã a bordo do Tanaïs com destino á Yokohama, porém, ainda achavamo-nos no Ava, quando ao anoitecer de 22 fomos assaltados por um violento cyclone que causou grandes avarias e desgraças em todo o porto e na parte baixa da cidade de Hong-Kong.
Foi verdadeiramente horrivel a noite que passamos a bordo do Ava durante o furacão.
Por espaço de doze horas, os officiaes, marinheiros e passageiros do Ava, esperavão a todo momento serem victimas da tormenta, e se depois de quebradas duas correntes que amarravão o navio, a ancora de salvação não podesse impedir o Ava que ia á garra, despedaçar-se contra o forte de Hong-Kong, teriamos a mesma sorte de vinte navios de alto bordo que derão a costa ou forão a pique, depois de se abalroarem, em quanto que o temporal, em terra também causava grandes desgraças.
O vento começou a soprar com impeto ás oito horas da noute mais ou menos, e, uma hora depois, tal era a violencia das rajadas, que se succedião com intervallos de mortificante silencio, que não ouviamos o que um companheiro de viagem, em voz alta, nos dizia, na distancia de um metro.
Ás duas horas da madrugada ouvimos em um destes intervallos, gritos de agonia e de soccorro; e no mesmo instante um grande navio passava á garra a bombordo do Ava e ia-se despedaçar sobre as casas que rodeão o caes da cidade.
Quando a rajada soprava, o Ava deitava-se sobre o seu bordo; era impossivel conservarmo-nos de pé; apenas, agarrados ás columnas de ferro da praça do navio, podiamos ter as indicações das agulhas de dois barometros aneroides.
Ás tres horas, o immediato exhausto por um lidar terrível de oito horas, desceu para onde estavamos, lançando imprecações contra as miserias da vida do marinheiro, e rogava a Deus a morte de seus filhos antes de dar-lhes momentos tão crueis como inglorios. Foi, então, que as duas cadeias do Ava romperão-se e o navio achou-se apenas preso á grande ancora que entretanto caçava.