a carta foi do José. Nem eu quero que saibam, se não havia o bom e o bonito, porque ainda que eu jurasse que não há aqui mal nenhum, não me davam crédito. Eu estou mas é muito preocupada por não saber o que lhe hei-de responder. Preciso de que me ajudes!
EU — Estou pronta, mas primeiro preciso lêr a carta dêle.
MILÚ — Vou buscal-a! (Vai espreitar á casa contigua, fecha novamente a porta e dirige-se para a pequena secretària. Está um calor sufocante. Refresco-me com o leque. Uma rosa chá, a murchar, debruça-se melancólicamente dum solitário. A vizinha do segundo andar gorgeia uma canção andaluza, acompanhando-se a um piano escandalosamente desafinado).
MILÚ (dando-me a carta) — Lê lá!
EU (lendo) — «Minha amiguinha: Depois da nossa conversação de ante-ontem não pude furtar-me à tentação de lhe escrever. E aqui me tem a dizer-lhe que estou ansioso por principiar a cultivar consigo uma afeição intensa mas suave; quando mais não seja, uma simples amitié amoureuse...»
MILU (interrompendo) — Isso aí é que eu não percebo bem... Tu entendes?
EU — Um pouco. Mas deixa vêr o resto. (Cont-
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