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Página:Diana de Liz - Memorias duma mulher da epoca.pdf/236

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Diana de Liz: Memorias


 

marada Ferreira de Castro, ao publicar o livro encantador desta última escritora, com tanta sinceridade assinala, e impõe-se-me lembrar aqui este nome aos muitos que a desconhecem, ao mesmo tempo que mostro aos alentejanos os méritos de alguem que eles devem recordar na evocação dos seus valores mais representativos.

A publicação do volume Pedras falsas mostra ao Alentejo, de modo exuberante, que a perda da sua autora acrescentou a lista gloriosa dos altos nomes desaparecidos, pois que ninguem, depois de o ler, em todas as suas paginas brilhantes deixará de sentir a finura da sensibilidade que a anima, a acompanhar a arguta delicadeza que as repassa.

Ler esse livro — o que eu fiz comovidamente e dum folego é ter a certeza de que um espírito lucido ilumina um cerebro privilegiado de mulher, e que essa, alentejana, como agora o sabemos, e alentejana da nobre Evora, marca um lugar de destaque na literatura da sua terra. Os Dialogos novelescos são a conversação inteligente, viva, elegante de alguem que encontrou no termo e na sintaxe, a forma precisa, sempre justa de expressão modelar, como as Cartas femininas, onde tanto carinho se expande, onde ha tanta suavidade, são confissões intimas de rara beleza.

A leveza, a doçura e o imprevisto de certas paginas impressionam.

Que Ferreira de Castro — cujo coração sangra no limiar deste livro formoso — perdoe a minha confissão. Comecei a leitura de Pedras falsas com alguma desconfiança e a dizer intimamente que a gloria de Florbela, com os encantos da Charneca em flor, e à revelação superior de Mascaras do destino, bastava, no momento, ao orgulho do povo alentejano.

Mas cedo mudei de parecer. Depressa a desconfiança abalou...


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