Mal acabada a leitura de alguns trechos, convenci-me de que, na minha frente, estava o livro de alguem e, ao encerrá-lo, dominava-me um grande sentimento de pesar pela abalada daquela cuja vida terminara tão cedo. Do mesmo modo que Ferreira de Castro, sentia, no fim de tão precioso trabalho, a impressão segura de que o livro de Diana de Liz era «o indice extraordinário duma personalidade impar e fulgurante, que o triste condicionalismo da existencia humana não permitiu que se revelasse enquanto vivia».
A prosa desta mulher tinha transparencias de aguarela no modo leve como era traçada. Sente-se apreciavel cultura no trato dos assuntos. Um vocabulario simples, mas justo, serve todas as nuances do mais encantador dos espíritos. O Alentejo tem de que orgulhar-se. E disse de mim para mim:
— A amorosa dedicação do homem de letras que prefaciou o livro Pedras falsas, não permitirá que o esquecimento caia sobre o mesmo livro, mas depois do que escrevi, certamente os alentejanos pensam, como eu, que seria ingratidão que eles se alheassem da memoria de Diana de Liz e lhe não prestassem o culto que merece.
Evora não adiará por muito tempo a consagração, pelo monumento, do nome de Florbela. Quem meteu ombros a tal empresa decerto não recuará na efectivação do seu intuito justiceiro. Pois bem! A Mimi Haas, a Diana de Liz, a primeira homenagem que lhe devemos é a de ler o seu livro póstumo e criar, com a leitura, como aconteceu comigo, a admiração que inspira os hinos de louvor e forma um cantinho de adoração na memoria de cada um de nós.
— Do Diario de Noticias, de Lisboa —
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