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siasticos applausos e elogios, quer em prosa, quer em verso; seu invento deu motivo a investigações e estudos de muitos vultos proeminentes das sciencias, ate nossos dias; mas despertou tambem a inveja, a ignorancia, a superstição que o accusaram depois de louco, de feiticeiro, de ter trato com o demonio, e sobretudo excitou a sêde insaciavel de sangue dos santos varões da inquisição, que entretanto o não perseguiram logo por causa do valimento que lhe dispensava a corôa.

Das disposições desses monstros de figura de homem a quem não havia sangue bastante para lhes saciar a sêde, nem tprmentos e gemidos que lhes toca sem uma só fibra das infernaes entranhas, estava Bartholomeu de Gusmão tão sciente, que nunca se atreveu a fazer nova ascenção, nem a denunciar outras descobertas scientificas que levou comsigo á campa.

Em 1871, porém, mandado a Roma para obter do pontifice — que sem duvida o tinha tambem sob as vistas como feiticeiro ou herege — o grau patriarchal para a capella real, e para desfazer antigas divergencias sobre as quartas partes dos bispados, e nada obtendo, decahiu do regio valimento; então, sendo votado ás fogueiras da inquisição, teve disto uma communicação reservada, sahiu de Portugal ás occultas com seu irmão frei João de Santa Maria, e passando pela cidade de Tolêdo, predisposto pelas tribulações do espirito e pelas fatigas da viagem, foi acommettido de uma febre perniciosa, que o levou ao hospital da misericordia, onde falleceu, sendo enterrado ás expensas do clero. Foi mais uma victima desses homens que tanto e tão impunemente ultrajaram a religião do Crucificado!

Além de muito versado na lingua propria e na latina, era-o tambem na franceza e italiana, e traduzia a grega e a hebraica; tinha grande cabedal da varios conhecimentos humanos, sobretudo das sciencias physicas e mathematicas, que cultivara com o maior esmero; era um orador eloquentissimo; membro da academia real de historia portugueza em sua fundação e escreveu:

Petição do padre Bartholomeu de Gusmão sobre o instrumento que inventou para andar pelo ar, e suas utilidades, Lisboa, 1709 — Esta petição foi publicada posthuma em 1774, e a publicação consta do requerimento; do desenho da machina, gravado em chapa de cobre; da explicação da mesma machina ; da resolução tomada sob consulta do desembargo do paço, e de uma nota do editor sobre este escripto, Correm ainda impressas em outras obras esta petição, as differentes peças que a acompanham, e as graças obtidas.

Descripção do novo invento aereostatico ou machina volante, do methodo de produzir o gaz ou vapor com que esta se enche, e de algumas particularidades relativas ás expériencias, que com ella se tem feito; com a noticia de um semelhante projecto, formado em Lisboa no principio deste seculo (XVIII) e peças a elle relativas, Lisboa (sem data), 58 pags. in-8° com uma estampa — Sua magestade o Imperador é, sei-o eu, quem possue esta obra.