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86 DOM JOAO VI NO BRAZIL

moria, nas quaes nao soube ou nao quiz esconder o seu pranto. Chorou ao fallar com Maler na morte da Mai; chorou quando partiram as Princezas suas filhas para Hes- panha ; chorou ao apertar nos seus bracks o marquez de Aguiar, ja muito alquebrado e enfermo, quando reappare- ceu na corte apoz um mez de ausencia por doenca.

A sua actividade tambem a comprovam insuspeitos do- cumentos diplomaticos. A correspondencia franceza refere por exemplo que correndo, no decurso das negociacoes re- lativas a Montevideo, o boato de terem os Hespanhoes in- vadido as fronteiras de Portugal, Dom Joao, apezar de doente da perna - -a erysipela que Ihe era habitual - -, ao chegar o brigue de Lisboa fez-se transportar em cadeirinha de Sao Christovao a beira mar, para mais depressa receber os despachos e interrogar o official de bordo sobre as occor- rencias e novidades no velho Reino. Verdade e que por causa d aquelle boato sonhara o Rei, segundo contou a Maler, cousas afflictivas, vendo lord Strangford de regresso ao Rio a transmittir-lhe, desde a primeira audiencia, commu- nicacoes em extremo desagradaveis.

A sua curiosidade, uma curiosidade legitima de gover- nante que nao descura seus encargos, levava-o a sophismas comicos. Quando o navio corsario Independencia, do go- verno nao reconhecido ainda de Buenos Ayres, veio ao Rio de Janeiro trazer despachos para o Rei, o governador da fortaleza de Santa Cruz Ihe nao permittiu a entrada no porto pelo facto de trazer hasteado um pavilhao official- mente desconhecido, e tambem o monarcha se negou a rece ber o commandante, ao ir elle a Sao Christovao fazer en- trega dos papeis de que era portador : mas para satisfazer

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