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DOM JOAO VI NO BRAZIL 955

docefs e o espaldar do solio episcopal. Na vespera, mergu- Ihado nas trevas o mausoleu octogono com emblemas ma- gestaticos e inscripgoes latinas, tinha tido lugar o officio de canto-chao entoando os capellaes e con-egos as licoes, e os responsorios os musicos dirigidos pelo grave e pomposo Marcos Portugal. A cerimonia no proprio dia prolongou-se das 10 y 2 da manha as 4 da tarde, executando-se a missa de pontifical e as absolvigoes do mesmo maestro Portogallo e proferindo o sermao o deao de Braga.

A cidade inteira como que carregara o lucto em acom- panhamento ao da dynastia, echoando nas ruas e pragas os canticos de saudade que, no interior da maioria dos templos e conventos, provocava a real memoria evocada nos sermoes e jaculatorias, de encomrnenda dos regimentos, das irman- dades, de todas as corporagoes militares, civis e religiosas, ate da Ordem de Malta. Os bardos de nenias, os escrevinhadores de elogios historicos, os latinistas de epigraphes, os musicos de voz e de instrumentos, os armadores de egreja e artifices em qualquer genero, os oradores sagrados em ferias, todas estas classes passaram urn anno regalado, rivalizando em pericia e sinceridade, como rivalizavam na ostentagao os que Ihes pagavam a melancholia e o primor. Marrocos escrevia (i) que comegou a fazer collecgao das inscripgoes sepul- chraes, suspendendo-a "por nao ter proporgoes, para obtel-as de toda a parte, nem tambem mereciao essa fadiga."

Diz o chronista Padre Luiz Gongalves que nenhuma demonstragao do pezar fluminense excedeu porem em ma- gnificencia as exequias mandadas celebrar na propria egreja da Ajuda, com assistencia do Rei, pelo Senado da Camara. A imaginagao macabra dos decoradores dera-se largas na

(1) \rn.rtrt ao T ai d. 10 dc -hilho de 1810.

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