ficas. Um tão grande privilegiado excita uma insaciavel curiosidade — como tudo o que, no bem ou no mal, pelo brilho ou pela força, se ergue acima do cinzento e mediocre nivel humano. E mal sabem os «burguezes» que o artista quasi sempre (a começar pelo proprio Flaubert) é tambem um burguez pacifico, sobrio, cordato e estreito.
Mas no Salão ha ainda, no dia da sua abertura, uma outra vistosa attracção que por certos lados se prende ás Bellas-Artes — a das toilettes. Com effeito, está na antiga tradição pariziense que as mulheres de luxo, aquellas para quem o luxo é um instrumento de profissão, e aquellas para quem a luxo é um habito natural, que lhes vem da riqueza, da posição, ou do gosto innato, arvorem então as modas novas de primavera, as creações mais delicadas e mais artisticas das grandes costureiras d’arte. São outros tantos quadros que circulam apparatosamente pelas salas, e que a multidão olha e admira, com muito mais curiosidade do que os outros, pregados em redor nas paredes, dentro dos seus caixilhos. E ao lado das elegantes enxameam as proprias costureiras, que vêm, exactamente como os artistas, observar com anciedade o «effeito» produzido pela composição, pelo colorido, pelo vigor ou pela finura das suas obras.
D’estas obras especiaes apenas entrevi duas com alguma fantasia e audacia. Em ambas a figura das senhoras, a sua «plastica» concorria a dar um relêvo picante e divertido á toilette e aos accessorios da or-