Página:Echos de Pariz (1905).pdf/216

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namentação. Uma, muito delgada, bem lançada, com uma gracilidade serpentina, trazia uma saia curta, de sêda murmurosa e lustrosa, recoberta de falbalás Pompadour: os cabellos fulvos, pintados com o louro do Ticiano, cahiam em cascatas e ondas ricas sobre collo e hombros, como uma juba superiormente frisada e bem empomadada por Lentheric (o mais illustre cabelleireiro do seculo); as abas do seu chapéo eram tão vastas que sob ellas se poderia abrigar do sol ou da chuva um grupo de viajantes, com os seus cavallos e com as suas bagagens, e estavam ainda encimadas por uma triumphal montanha, fôfa e tremente, de plumas multicores: a sua mão, calçada de luva negra, bordada a ouro, e que subia amarrotada até o hombro, apoiava-se no castão de onyx de uma bengala de marfim, mais alta que um baculo ou que uma lança: a cada passo que dava, as sêdas crepitavam e lampejavam, a massa alterosa de plumas tremia e fluctuava, o conto do bengalão resoava magestosamente, e um sorriso fugia dos labios da dama, tão vermelhos que pareciam uma ferida em carne viva e sangrenta. Assim ia entre a multidão — e eu não a commento. Arredae-vos, amigos, e deixae-a passar.

A outra senhora, ainda mais pittoresca, era enorme, transbordante, construida de rôlos e bolas, com uma pelle escabrosa, a que, mesmo sob o pó d’arroz applicado sem economia, se sentia a côr de açafrão. As suas tremendas massas de carne bamboleante vinham apenas envoltas n’uma tunica diaphana, d’um