Página:Eneida Brazileira.djvu/127

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Toa a invocar trezentas divindades,
O Erebo, o Chaos, e a trina Hecate virgem,
Tergemina Diana. Alli despeja
Simulado licor da fonte Averna;
560Segadas ao luar com fouce ahenea,
O leite espreme de pubentes hervas,
Veneno tétrico; extrahido ajunta
O amor da fronte de nascente poldro
E subtrahido á mãe. Frouxa a petrina,
565Mola nas pias mãos, de um pé descalça,
Dido, entre as aras morredora, os deuses
Attesta e os astros, do seu fado conscios;
E, se ha nume que amantes patrocine,
Da ingratidão vingança lhe depreca.
     570Era noite, e em socêgo os lassos corpos
Descansam: dorme a selva, o mar sanhudo;
Em meio gyro os astros escorregam;
Todo o campo emmudece; as alimarias
E aves de côres mil, quanto povoa
575Liquidos lagos, asperas charnecas,
No silencio nocturno os seus trabalhos
Adormentando, a pena alliviavam.
Só nos olhos ou peito a insomne Tyria
Não colhe a noite: as afflicções lhe brotam;
580Surgindo e resurgindo o amor braveja,
N’um fervedouro de iras fluctuando,
E a mente em si voltêa: «Que! zombada,
Requestando os primeiros pretendentes,
Hei-de em Numidia mendigar consorcios
585Tam rejeitados? ou partir na frota,
Conforme ás teucras derradeiras ordens?
Gratos ao beneficio, oh! quam lembrados
Dos meus favores sam! E ha, quando eu queira,
Quem m’o consinta, ou nos suberbos lenhos
590Execrada me acceite? Nem tu sabes,