Página:Eneida Brazileira.djvu/129

Wikisource, a biblioteca livre
E ovantes outravez te obedecemos.

Oh! sê propicio e placido, e nos tragas
Faustas estrellas.» Dice, e da baínha
Saca o fulmineo gume e os cabos talha.
630Tudo arde, á faina acode; as bordas largam:
De naus coalha-se o pelago; estribados,
Varrendo a azul campina, a espuma enrolam.
     Já, de Tithon deixando a crocea cama,
A Aurora de luz nova alaga o mundo:
635Mal Dido alvorecer e arfar em cheio
Viu da atalaia a frota, e a praia e os portos
Nus da chusma sentiu, quatro e mais vezes
Lacera o bello peito e os aureos fios
Arrepella: «O’ deus summo! ha-de um estranho
640Ir-se do nosso reino escarnecendo?
Meu povo armas não toma, e o corre e os vasos
Dos arsenaes despede?... Já, de prompto,
Brandi fachos, dai vélas, forçai remos.
Que profiro? onde estou? desvairo insana?
645Ai! Dido, hoje em ti pesa a mão do fado!
Quando entregaste o sceptro, he que era tempo.
Que fé, que dextra aquella! E he quem se affirma
Que da patria os penates conduzira,
Que o pae caduco aos hombros carregara?
650E empolgal-o não pude, esquartejal-o,
Pelo mar desparzil-o, os seus á espada
Passar, e o mesmo Ascanio, e por comida
Pôl-o á paterna mesa? Mas do prelio
Fôra a fortuna duvidosa... Fôsse:
655Vou morrer; qual o medo? A’s naus, de assalto,
De fogo enchera o bôjo; com tal raça
Pae e filho extinguira, e a mim com elles.
     Sol, que lustras o globo e tudo aclaras;
Juno, intérprete e conscia destas penas;

660Pelas cidades em nocturnos trivios