Vibrando olhos sanguineos, e ás trementes
Faces de nodoas salpicada, o interno
Claustro penetra, pallida a raínha
Já da futura morte, e furibunda
700Sobe á fogueira, o troico ferro despe,
Não para tal crueza reservado.
No iliaco despôjo e nota cama
Depois que attenta, em lagrimas, cuidosa,
Um pouco está suspensa, e reclinada
705Finaes vozes[1] repete: «Ó doces prendas,
Quando o queria um deus e o fado, est’alma
Recebei, libertai-me de pezares.
Vivi, perfiz o destinado curso:
Grande irá minha sombra agora ao Orco.
710Fundei clara cidade, eu vi meus muros;
No troculento irmão vinguei o espôso.
Feliz, ah! mui feliz, se as quilhas teucras
Aqui nunca abordassem!» Dice, e o rosto
No leito impresso: «Inulta morreremos?...
715Pois morramos, sussurra; assim aos manes,
Assim desço contente. O cru Dardanio
Do mar embeba os olhos nestas chammas,
E estes mortaes agouros o acompanhem.»
Não acabava; e sôbre o estoque as damas
720A vêm cahir, de sangue as mãos tingidas
E a lamina espumando. O clamor altos
Atrios atroa; ás tontas corre a Fama
De cabo a cabo; com soluços, gritos,
Com femineo ululado os tectos fremem;
725Todo o ar retumba do alarido e pranto:
Qual, de hostil assaltada, se em ruínas
Carthago, ou Tyro antiga ardesse em alas
Furentes, ateadas nas dos homens,
Nas cumieiras dos deuses. Aturdida,
730A irmã convulsa, exanime, açodada,
- ↑ "Fozes", erro tipográfico.