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ENEIDA. — LIVRO I.
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Sem risco os socios, ancorada a frota,
Com o rondar dos áquilos, te auguro,
Se em arte vã meus paes não me instruiram.
Attenta cysnes doze em bando alegres:
415No espaço, o ether fendendo, os perseguia
A ave de Jove; n’um cordão agora
Ou tem no pouso a mira, ou vam pousando;
Juntos batendo as estridentes azas,
Brincam cingindo o pólo, a salvo cantam:
420Bem como os teus as pôpas atracaram,
Ou de véla enfunada a foz embocam.
Sus, alli te dirige, a estrada he esta.»

Dá costas, e a cerviz rosada fulge,
De ambrosia odor celeste a coma expira;
425A veste escoa aos pés; no andar se ostenta
Vera deusa. Elle atrás da mãe fuginte,
Reconhecendo-a, brada: «Porque o filho
Com taes ficções, cruel, enganas tanto?
Ligar dextra com dextra, ouvir-te ás claras,
430Conversar-te em pessoa me he defeso?»
Tal a argúe, e ás muralhas se endereça.

Ella porêm de ar fusco os viandantes
Tapa e os embuça em nevoa, que enxergal-os
Ou tocar ninguem possa, nem detel-os
435Ou da vinda informar-se. A deusa a Paphos
Remonta, a espairecer no sítio ameno
Onde o sabeu perfume arde em cem aras,
E recentes festões seu templo aromam.

Eis da azinhaga pela trilha cortam,
440E um teso galgam já, que olha imminente
A fronteira torrígera cidade.
Palhaes d’antes, a mole admira Enéas,
Admira o estrondo e as portas e as calçadas.
Tyro aferventa-se, a lançar os muros,
445A avultar o castello, e a rolar pedras.