Página:Eneida Brazileira.djvu/218

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Nomeando Laurentes os colonos.
No tope, oh maravilha! os ares fluidos[1]
Nuvem de abelhas a zumbir sulcando,
Sentou-se, e em cacho pés com pés travados,
70Da ramagem pendeu subito enxame.
Logo um vate: «Com tropas chefe externo
Chegar, donde as abelhas, devisamos,
E em senhor se erigir do summo alcaçar.»
E tambem, junto ao pae Lavinia virgem
75Com tedas castas incensando as aras,
Fogo, oh pasmo! ás madeixas ateado,
O ornato viu-se em crepitante chamma;
E ao de rubis diadema e regio crino
Accesa, em fumo e pardo lume involta,
80Espalhar pelo templo a labareda.
Terror e espanto foi: de illustre fama
E no porvir ditosa a decantavam;
Mas que atroz guerra promettia ao povo.
Busca o velho assombrado o padre Fauno,
85E o consulta nos bosques d’alta Albunea;
Que, floresta a maior, com sacra fonte
Soa, e tetra mephyte exhala opaca.
Aqui gentes d’Italia, a Enotria em pêso,
O oraculo interrogam. Dons trazendo
90O sacerdote aqui, se em muda noite
De víctimas em pelles estradadas
Se encosta e se adormece, avoejantes
Vê mil phantasmas, vozerias ouve,
Logra aos deuses fallar, e no imo Averno
95A Acheronte conversa. Aqui, rogando,
Bimas do uso o rei mata ovelhas cento,
Nos coiros deita-se e alastrados vellos.
De repente uma voz sahe da espessura:
«Nos thalamos dispostos não confies,
100Prole minha, e em nenhum latino genro;

  1. "fluídos" no original; prosódia que torna o verso hipermétrico.