Página:Eneida Brazileira.djvu/222

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Do velho deus. Lembrado estou que auruncos
Padres contavam-me (antigualha obscura)
Que destes agros Dárdano entranhou-se
No Ida phrygio e na que ora he Samothracia;
210E, do tyrrheno Cócyto emigrando,
Hoje aras tem, numera-se entre os divos,
Com throno de ouro na estellante côrte.»
Presto Ilioneu: «De Fauno herdeiro egregio,
Fluctívagos, ó rei, não foi tormenta,
215Astro ou róta fallaz, que ás vossas bordas
Nos lançou; de pensado e accordes vimos,
Expulsos do maior de quantos reinos
Dos balcões do levante o Sol mirava.
De Jove oriunda, a geração dardania
220Do avô Jove se orgulha; e o troico Enéas,
Garfo real de Jove, a ti nos manda.
Sôbre os campos ideus que atroz borrasca
Desfechou de Mycenas, por que impulsos
D’Asia e Europa os dous orbes se encontraram,
225Quemquer o ouviu que nos confins da terra
Seja alêm do oceano, ou se entre as quatro
Na zona extensa o tórre iniquo Phebo.
Por vastos mares do diluvio escapos,
Séde exigua imploramos para os deuses,
230Commum agua, ar patente, innocua praia.
Não te seremos pejo, e mais te illustras;
Perenne gratidão fará que Ausonia
De agasalhar a Troia não se peze.
De Enéas pela dextra invicta o juro,
235Se he que fida ou valente algum provou-a,
Bem povos (não desprezes os que temos
Estas fitas nas mãos, na bôca preces),
Bem nações para socios nos rogaram;
Mas fado urgente ao solo teu nos guia:
240Dárdano, daqui nado, aqui reverte;