Página:Eneida Brazileira.djvu/226

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Dos Phrygios contra a vinda e a pró de Turno
Feminis mágoas e odios recoziam.
Da azul grenha uma serpe a deusa arranca,
No corpo lh’a insinua, porque o paço
350Todo empeste e alborote furibunda.
Coa a serpe entre a veste e o liso seio
Com molle tacto, com macio engano
Lhe infunde alma vipérea: em torsal de ouro
Faz-se ao pescoço; n’um listão se alonga,
355Enleia a coma e lhe percorre os membros.
E emquanto alastra a humida peçonha,
E em ossos e sentidos prende a chamma,
Antes que se lhe incenda o ânimo inteiro,
Carpindo a filha e os hymeneus troianos,
360Com maternal carinho ao rei se exprime:
«A vindiços, tu pae, Lavinia entregas?
Della e ti não tens dó, nem da mãe triste,
Que ao primeiro aquilão, raptada a virgem,
Verei soltar a véla esse pirata?
365Não penetrou na Espartha o pastor phrygio?
A Ilio não transportou de Leda a filha?
Que he do amor para os teus, onde a fé pura
E a miude ao meu Turno a dextra dada?
Se has mister genro estranho, e o padre Fauno
370T’o ordena e está sentado, estranha eu julgo
Qualquer terra ao teu sceptro não sujeita:
Do oraculo este o senso. E ao prisco tronco
Se remontâmos, de Inacho e de Acrisio
Turno provêm, Mycenas de permeio.»
375Baldadas as razões, que resistia
Firme o rei, pelas vísceras calando
Do serpentino virus o contagio,
Já damnada a infeliz, que espectros vexam,
Na vasta capital erra sem tino.
380Sob a torcida trena, em rodopio,