Página:Eneida Brazileira.djvu/227

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Attentos os meninos ao brinquedo,
Pelo vazio largo o pião tangem,
Que do açoute impellido em círculo anda;
Nescia embasbaca a chusma, e o bando impube
385Aviva a golpes o voluvel buxo:
Não com menos presteza ella vaguêa,
Corre as cidades e embravece os povos.
Té sanhuda, a fingir de Iaccho o influxo,
Com mais nefando arrôjo se entranhando,
390No monte occulta a filha, porque aos Troas
Roube o thalamo e as nupcias procrastine;
Brada e freme: «Evoé! só, Baccho, es digno
Da virgem que maneja os molles thyrsos,
Gyra em côro, a ti sacra a trança cria.»
395Grassa o rumor: as mães da peste accesas,
Por séde nova ardendo aguilhoadas,
Cabello e collo ao vento, os lares deixam;
Ou pelles a trajar, pampinea a lança,
De trémulo ululado os ares coalham.
400Ella entre as mais sustêm flagrante pinho,
Raiva, canta o hymeneu da filha e Turno;
Torva grita, virando olhos sanguineos:
«Io latinas mães! quem sois, ouvi-me;
Se Amata vos condoe, ou do materno
405Jus vos remorde o zêlo, nestas órgias,
Desennastrada a coma, interessai-vos.»
Tal entre brenhas e ferinos ermos
Alecto em bacchanaes punge a raínha.
Dêsque a raiva lhe afia, e de Latino
410A familia e conselho crê revoltos,
Leva-se a turva déa em fuscas azas
Do audaz Rutulo aos muros; que, trazida
Sôbre o Nôto precípite, aos Acrisios
Danae se diz fundara: a gran’ cidade
415Chamou-se Ardea, e conserva o claro nome,