Página:Eneida Brazileira.djvu/233

Wikisource, a biblioteca livre

Tem-se o rei qual marítimo rochedo;
Rochedo que na mole se sustenta,
Se em ruidosa[1] procella as ondas ladram:
Batida alga fluctua e bólha a espuma,
595E em vão pedras em roda e escolhos bramam.
Vencer pois tal cegueira não podendo,
Que ia tudo a sabor da fera Juno,
O ether puro attestando: «Ah! fado, exclama,
A tormenta nos fórça irresistivel.
600Com sacrilego sangue, ó miserandos,
Vosso êrro pagareis: maldição, Turno,
Triste pena te espera; e aos deuses tarde
Supplicarás. Á entrada já do pôrto,
Repouso achei; de funeraes ditosos
605Só me despojarão.» Nisto, encerrou-se,
E do governo as redeas abandona.
Costume era do Lacio, e que adoptado
Na Albania o guarda a portentosa Roma,
Lagrimaveis batalhas quando apresta
610Ao Geta, Arabe, Hyrcano, ao Indo eôo,
E reconquista aos Parthos as bandeiras,
Duas portas haver, bellicas ditas,
Que santo horror defende e o cru Mavorte:
Barras, ferrolhos cem de bronze as trancam;
615Sempre ao limiar de sentinela Jano.
Se o decreta o senado, insigne o consul
Com trabea quirinal, gabino cinto,
Os umbraes descerrando rangedores,
Proclama a guerra; guerra os moços bradam,
620Roucas ereas trombetas resonando.
Cabia-lhe aos Troianos declaral-a,
Volver os tristes gonzos; mas Latino
Se abstem, recusa o infausto ministerio,
E se occulta na treva. Então, baixando,
625A raínha Saturnia arromba mesma

  1. O “i” recebe acento na primeira edição, retirado na segunda.