Nas côvas palmas, como he uso, apanha
Do licor fluvial, dest’arte orando:
«Nymphas, laurentes nymphas, geradoras
Dos mananciaes, com santa vêa ó Tibre,
70Recebei vós a Enéas, resguardai-me.
Qualquer que seja a fonte, ou lago ou solo,
Donde formoso nasças e onde as nossas
Penas, rio cornígero, apiadas,
Sempre terás meu culto, offrendas sempre,
75Tu das aguas hespericas monarca.
Assim me valhas e os augurios firmes.»
Da frota escolhe então biremes duas,
E de armas e remeiros as fornece.
Subito, oh maravilha! entre arvoredos,
80Deitada em verde ribanceira, avistam
Com sua alva ninhada uma alva porca;
E a ti, maxima Juno, o pio Enéas
Com todo o parto a immola e te offerece.
Durante a noite amaina o inchado Tibre,
85E em tacito remanso refluindo,
Qual tanque fica-se ou lagoa estôfa,
Que não obste ao remar. Crenado o pinho,
Com propício rumor, no equoreo plaino
Ligeiro se deslisa; e a onda e o bosque
90Arnezes a fulgir de longe estranha,
Estranha os bucos a nadar pintados.
Afadigando á voga a noite e o dia,
E os estirões e as vóltas alcançando,
Sob a folhuda abobada, cortavam
95No aquoso espelho as verdejantes ramas.
Igneo o Sol meridiano, he quando enxergam
Uns muros, um castello e tectos raros,
De Evandro haver mesquinho; que a pujança
Romana elevou tanto e aos céos o iguala:
100Viram proas e ao burgo se approximam.
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