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ENEIDA. — LIVRO I.

Entre flores o abraça e fresca sombra.
E obediente os regios dons Cupido
Leva aos Tyrios, folgando após Achates.

Já d’aurea tela em sumptuoso leito
730Acha a Dido, bizarra entre os magnatas.
Com sequito luzido o heroe concorre;
Tomam seu posto em purpura excellente.
Dá-se agua ás mãos, em canistréis vem Ceres,
Toalhas servem de tosada felpa.
735Cincoenta moças frutas e viandas
Arrumam dentro, aos divos thurificam;
Cem outras e iguaes moços põem nas mesas
A baixella, a bebida e as iguarias.
Em mó nas salas festivaes, os Tyrios
740De ordem recostam-se em coxins lavrados.
O padre, o falso Ascanio, o vulto admiram
Flagrante e a voz do deus; o manto, as joias,
De croceo acantho o véo. Não farta a mente
A misera Phenissa, á mortal peste
745Votada, e mais e mais se abraza olhando
O menino e seus dons. Do pae fingido
Elle nos braços, do pescoço appenso,
Mal sacia-lhe o amor, vai-se á raínha.
Com olhos e alma se lhe apega Dido,
750No collo o assenta, sem saber, coitada!
Que deus afaga. O alumno de Acidalia
Sicheu aos poucos remover começa,
E intenso ardor insinuar procura
N’um coração já frio e ha müito esquivo.

755A primeira coberta alçada, os vinhos
Bolham, coroados, em bojudas copas.
Retumba o tecto, o estrepito por amplos
Atrios reboa; de aureas architraves
Pendentes lustres e os brandões accesos
760A noite vencem. Grave de ouro e gemmas