Página:Eneida Brazileira.djvu/362

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D’então vês quantos males hei soffrido;
Que transes tu mórmente. Já perdidas
Acções duas, de Italia nestes muros
Jaz a esperança; o campo alveja de ossos,
35Mana do sangue nosso o Tibre quente.
Que indicisão! que insania me trastorna!
Se, Turno extincto, associal-os devo,
Porque, elle salvo, a guerra não termino?
Os consanguíneos Rutulos, a Italia
40Que não dirá, se á morte (longe o agouro!),
Quando a filha me pedes, eu te exponho?
O lance he dubio; o velho pae condoas,
Que em Ardea lá te aguarda e lá te chora.»
Turno impaciente não se dobra: o achaque
45Mais se aggrava ao remédio. Apenas poude:
«Por quem es, brada, ó pae, de mim não cures;
Deixa-me a escolha de acabar com honra.
Eu tambem sei jogar a espada e a lança,
E aos golpes deste pulso escorre o sangue.
50Não tem cá deusa mãe que em névoa o encubra
Femínea, ou sombras vãs em que se esconda.»
Treme a raínha á condição da justa,
Retem desfallecida o ardente genro:
«Turno, por este pranto, se has de Amata
55O pundonor a peito (pois columna
Me es na velhice, e de Latino o imperio
E inclinada esta casa em ti se esteia),
Desse duello desiste: eis quanto peço.
Delle, Turno, o teu fado e o meu depende;
60A luz odiosa deporei comtigo,
Nem genro o salteador verei captiva.»
Á voz materna, em lagrimas Lavinia
Incende as faces, de rubor corando;
Fogo instantaneo o vulto lhe escandece:
65Tal fica o indio marfim na grã sanguínea,