Saltar para o conteúdo

Página:Eu (Augusto dos Anjos, 1912).djvu/12

Wikisource, a biblioteca livre
8

E’ uma trágica festa emocionante!
A bacteriologia inventariante
Toma conta do corpo que apodrece.
E até os membros da familia engulham,
Vendo as larvas malignas que se embrulham
No cadaver malsão, fazendo um s.

E foi então para isto que esse doudo
Estragou o vibrátil plasma todo,
A’ guisa de um fakir, pelos cenóbios?!.
Num suicidio graduado, consumir-se,
E após tantas vigilias, reduzir-se
A’ herança miseravel dos micróbios!

Est’outro agora é o satyro peralta
Que o sensualismo sodomista exalta,
Nutrindo sua infamia a leite e a trigo.
Como que, em suas céllulas vilissimas,
Ha estratificações requintadissimas
De uma animalidade sem castigo.

Brancas bacchantes bebedas o beijam.
Suas artèrias hircicas latejam,
Sentindo o odor das carnações abstémias,
E á noite, vai gozar, ébrio de vicio,
No sombrio bazar do meretricio,
O cuspo aphrodisiaco das femeas.

No horror de sua anómala nevrose,
Toda a sensualidade da symbiose,
Uivando, á noite, em lúbricos arroubos,
Como no babylonico sansára,
Lembra a fome incoercivel que escancára
A mucosa carnivora dos lobos.