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Página:Eu (Augusto dos Anjos, 1912).djvu/126

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É como um requiem profundo
De tristissimos bemóes.
Sua voz é egual á voz
Das dores todas do mundo!

«Fecha-te nesse medonho
«Reducto de Maldição,
«Viajeiro da Extrema-Uncção,
«Sonhador do ultimo sonho!

«Numa redoma illusoria
«Cercou-te a gloria fallaz,
«Mas nunca mais, nunca mais
«Ha de cercar-te essa gloria!

«Nunca mais! Sê, porém, forte.
«O poeta é como Jesus!
«Abraça-te à tua Cruz
«E morre, poeta da Morte!»

— E disse e porque isto disse
O luar no Ceu se apagou.
Subito o barco tombou
Sem que o poeta o presentisse!

Vista de luto o Universo
E Deus se enlute no Ceu!
Alais um poeta que morreu,
Mais um coveiro do Verso!

Cantam nautas, choram flautas
Pelo mar e pelo mar
Uma sereia a cantar
Vela o Destino dos nautas!