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e em mente se apoderava d´esse symbolo: Ella deveria beber o seu amôr através do soffrimento, sob a dôr...

Ladice volveu a cabeça: atrás della as montanhas envoltas em sombra contrastavam com o mar fremente, incendiado. Ellas tinham silencio, mutismo, calma, geito de quem reflecte. Talvez a alma sombria, atormentada, laboriosa dos metaphysicos sem gritos e estertores de romantico.

— Ah! Dinah, que ebriez! Eu hoje quizera rolar no azul... — E seus braços se extendian: como se ella se preparasse para o arranco radioso.— Sinto nos nervos a palpitação de tudo o que vejo... — Segurando a areia — “Como é aguda e arida a sua palpitação!” — “Tomando uma concha — “E´ tenra e infantil...” — Olhando uma rocha — “E´ qual a minha, selvagem...” — Fitando o horizonte — “Fugitiva e nostalgica como a da saudade...” — Lembrando-se do Destino — “Descompassada, sem rythmo, diabolica...” — Referindo-se ao sol que tombava — “Abrupta, rapida, como meu sentimento...” — Pensando na nuvem — “Continua, immoderada, igual á minha vontade...” — Alludindo á das estrellas — “Progressiva, lunatica, desabrida, tal qual a do meu amôr...” — Abraçando Dinah, como se lhe quizesse communicar a sua alegria immensa: — E a tua se assemelha ao que? — interrogou-lhe, ella.

— Ao bater das asas dos Archanjos — respondeu sua prima, olhos ao céo...

— E preciso que sigas a tua vocação... Felarei a respeito á mamãe... Incommodam-me essas dilações