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constantes... — Mudando de tom, segurando-lhe as mãos: — Quando te fores, que saudades terei do meu Lirio Branco...

— Em mente, estarei sempre comtigo. As minhas preces serão para a tua felicidade — replicou Dinah.

— A´s vezes idealizo a tua vida de claustro... imagino-te, então, vestida de azul e branco, a cabeça baixa, os braços cruzados sobre o peito, a caminhar de um lado para o outro, no pateo sombrio...

— Tu me inebrias, continúa...

— ... Tudo ao redor é silencio; apenas ouves o barulho das contas do rosario se embatendo, e a toada monotona das sandalias de uma freira, em atraves sando as lageas carcomidas das arcadas... De repente, estremeces: — E´ o toque do sino, chamando-te á oração, á capella... Alças os olhos ao alto e sorris... Apressas o passo; entras; talvez sejas a primeira a chegar... Ajoelhas-te; cobres o rosto com as mãos pallidas e magras; tua alma em santo alvoroço, entrega-se a Deus, pairas n´Elle... Não vês que pouco a pouco o santuário se enche, que a luz baça da lamparina fraqueia... Não te importas que o cheiro de cêra, de azeite, de chão envernizado, abafe, nauseie... Não ouves o suspiro que se escapa atrás de ti, de um espirito hesitante, febril de duvida, pedindo a Christo, flamma santa, crença... Ha uma hora que rezas sem o saber... As quatro pancadas do relogio te despertam... Mais cinco minutos, e te curvas profundamente... Beijas então o crucifixo de lenho polido que te pende ao lado... Lanças triste um ultimo olhar de saudade e de adeus para o altar... Mais uma re-