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a alegria das manhãs, em suas folhas nervosas, alongadas, estreitas; mez em que isolada no mato, amarellece a flôr do ipé, como eclosão universal, das frondes ananthas; mez em que os gaturamos, os pintasilgos, os sabiás, gorgeam poemas de amôr em bergos perfumados, em concavos de magnolias; mez em que os olhares das mulheres, são parados, lentos, como se ellas ouvissem palavras meigas, caricias perturbantes, em que as suas gargantas se apertam, se contrahem, em que seus coracões batem com mais força, sem saberem porque... Julho, mez das noites claras, sem murmurios, sem mysterios, dos somnos subtis, leves, deliciosos, que nos não deixam acordar e que nos emprestam a sensação de repousarmos sobre asas de pombas, sobre juncos doirados, em lagos sombrios... mez do ardor, da fecundidade, da reproducção da planta, da herva tenra, dos sêres organicos...

Preparava-se grande festa de Caridade em favor de um Asylo prestes a se fechar, á mingua de recursos. A commissão encarregada de organizal-a envidiava todos os esforços para que seu successo fosse completo, total; uma das principaes condições do triumpho, e do exito, deveria ser a belleza das moças que presidissem as barracas, sobretudo a das flôres que attrahia os cuidados, a attenção dos artistas e dos esthetas... Elles principiavam de encontrar certa dificuldade na escolha; ninguem era assaz formosa ou elegante para dirigil-a; mostravam-se exigentes, obstinados, resolvidos a entregal-a sómente áquella que correspondesse ao ideal que tinham em mente: