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mente o chronista — creio ter ouvido qualquer cousa a seu respeito acompanhada de grandes adjectivos. Levar-me-ás á sua casa... Quero vela e julgal-a, não tenho confiança no gosto de vocês, leigos na arte — ajuntou elle dirigindo-se aos companheiros.

— Não somos filhos authenticos das Musas, mas sabemos discernir a belleza e render-lhe sempre devido preito, verás que te digo a verdade — replicou Jorge, sentando-se e, encostando a cabeça no espaldar da cadeira, triste, pensativo...

— Precisamos tratar disso já, a festa se realizará dentro de poucos dias. Amanhã me apresentarás á futura Blumina. Se não servir...

— Não tenhas esse susto — interrompeu Jorge vivamente — garanto-te não existir outra igual em todo o orbe...

— Que enthusiasmo!... Hum!... Alguma paixão — interrogou, malicioso, o chronista.

— Não; somos dous irmãos e nada mais...

— Dous irmãos?!... Ah, caro amigo, não sou tão ingenuo... — E Amando ria-se e batia-lhe ao hombro.

— E´ de uma seriedade enervante — acerescentou Jorge — e olha, traz n´um corpo serpentino peccados gloriosos...

— Mas então, é imperdoavel em ti, essa tua permânencia na virtude... Com certeza és um timido...

— Sou um audacioso recusado, entendes?

— Que allivio! estares á margem... Não me seres um rival...