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— Se pretendes conquistal-a não te acompanharei... Repito-te; é digna do maximo respeito — disse Jorge formalizado.

— Não te zangues... E´ mera brincadeira. Mudemos de assumpto. Devemos avisal-a com antecedencia... Em dias solemnes, as mulheres gostam de trazer vestidos novos... a vaidade feminina é terrivel, mas necessaria; é, de resto, o complemento de sua graça, de sua belleza...

— A mulher sem vaidades torna-se um ser hybrido... E´ deveras detestavel — exclamou Jorge.

— A vaidade, afinal, é o amôr exaggerado de si mesmo; é o sentimento nebuloso, não revelado, de agradar, de attrahir a attenção alheia, de se associar, de se unir a alguem...

— E´ um instincto...— accentuou Jorge.

— E o atomo de onde se irradia a ideia de sociedade; é o artificio de nossa natureza, levantando-se contra a solidão, o isolamento...

— Tenho-a como uma virtude preciosa e generalizada...

— Ella, o interesso e o egoismo pairam em a essencia de todos nós. São o fundamento de nossos actos, conselhos, acções...

— Por essa razão, nunca acceito os sabios avisos do proximo — disse, ironico, Jorge.

— Nunca te pensei um pessimista...

- Sou temporista... Principio de seculo... — replicou Jorge, sorrindo.

— A tua maxima não é má... Mas, apesar de tudo, creio na bondade...