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— Tenho, entretanto, trinta annos, sou forte e vigoroso... — respondeu Jorge, orgulhoso de sua pouca idade.

— Não comprehendo essa anemia subjectiva em plena juventude, em esse instante da vida em que o coração se renova como os jasmineiros; em que a imaginação é febril, azoinada de orgias, assaltada, sacudida, bandeada por vertigens freneticas, precipites, dementes... Oh! instante luminoso! passas sobre nós, violento, rapido, relampeante qual escudo de Walkyria fugitiva... Como pódes tu Jorge, n´essa quadra unica, que de cada folha, dos objectos, dos insectos, se desprendem para a avidez de nossos sentidos, um beijo, um “eu te amo”, um “eu sou tua”... ser assim positivo, crú?

— Ante a minha consciencia, sou um innocente... — retorquiu Jorge.

—Tu te queimastes, talvez, na pyra da desillusão... talvez um amôr romanesco te quebrasse o viço, a seiva pela vida, que corre impetuosa nas velas novas, moças, latejantes... talvez, mas, não é possivel, sejas um asceta por indole que ainda não apalpou com suas mãos insensiveis e grosseiras as linhas roseas, trescalantes, abrasadas do prazer que prende, que segura, que desnorteia, que não deixa sair, é que enrola em seus viscos de mel e oiro a juventude alegre... ou, talvez, seja a tua negação, um cantico ardente, o estupor, o espanto, ante a magoa do alêm incomprehendido, ante a fragilidade, a curteza, o nada da existencia... Tens a revolta da ephemeridade de teu ser — accrescentou Armando Sueiro.