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— Não; porque sou o passado e o futuro...

Armando sem penetrar muito em a significação d´essas palavras, exclamou: “E´s um louco...— E ambos se separaram.

No dia seguinte ás oito horas da noite Armando e Jorge foram introduzidos em o salão da Senhora de Assis,

Emquanto Jorge folheava uma revista ingleza, Armando instinctivamente curioso, examinava os moveis, os quadros, a elegancia pittoresca, artistica, requintada, que se evolava d´esse conjunto luxuoso: as nuanças eram pallidas, harmoniosas, calmas, entranhando-se uma nas outras, misturando-se, formando uma só; o ar, as flôres, as pregas das cortinas, o amarrotado das almofadas tinham uma molleza, uma doçura voluptuosa, lenta, de gatinha carinhosa; o que surprehendia, porém, Armando, eram a independencia, a individualidade accentuada que se distinguia no arranjo, na escolha, na disposição, nos detalhes d´este ambiente ainda quente, ainda vibrante da presença de um perfil maravilhoso... Dir-se-ia, que os objectos tomavam relevo, revestiam-se de outra forma, tinham significação, vida, pulsavam... esta atmosphera de goso, estonteante, perfumada, o intoxicava, o invadia de sensações várias, multiplas. De esguio vaso de bronze, apertado por um terrivel dragão de fauces escancaradas, pendiam, desordenadas e em grande quantidade, flores da paixão. Armando não sabia se era devido á sua imaginação por demais fantasiosa, a impressão morbida, de cousa remota, que sentia, todas as vezes que olhava para aquelle lado; parecia-