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lhe a grata noticia de que Theophilo Fernão de Almeida viria, á noite.

Seu coração se accendera como uma lampada; cobria-se de victorias, de estandartes brancos, de festões rubros...

Pela primeira vez ella experimentava a alegria, essa sensação vazia, essa torre rendada, a consolação dos pobres de espirito... Alegria, é como a neblina, como a espuma, estás sempre no alto, branca, leve, incorporea, sem continuação, morrendo em um baloiço para nascer em outro baloiço... Numen fugaz passas celere pelas almas predestinadas. Numen vadio te comprazes em o seio da mediocridade...

A Senhora de Assis, sentada no grande salão lia, á espera de Theophilo... Seus olhos pensativos e longos desviavam-se a todo o instante da phantasia amorosa e sombria de Poë. Quedavam-se tranquilos, a espreitar, para de novo volverem a saborear essa poesia morbida. "Alone", onde vibram a singularidade, a melancolia estranha de uma alma evocadora de ideias originaes, do terror, do arrepio, das invisibilidades ainda não sentidas das cousas terrenas...

Por vezes Ladice fremia de impaciencia e batia com os pézinhos no tapete, qual veadinha insoffrida a escarvar a areia...

Inesperadamente Francisco e Theophilo assomaram á porta: — O Poeta entrara para o escriptorio do Senhor de Assis, alguns minutos antes. Ladice não teve tempo de levantar-se, o vate bem amado sentou-se ao lado.