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mãos brancas o surprehendiam, excitavam-lhe a admiração.

Elles estavam tão proximos um do outro que seus joelhos quasi se tocavam. A dominação da cabeça magnifica, do perfi suave do vate, d´essa haste que talvez tivesse o seu tronco em alemima provincia exotica, dominava Ladice, deslumbrava-a...

Ella lhe via nas pupillas quentes e paradas, leivos de sensações esquisitas, vãos á espera de todas as lias, esperanças de uma primavera verde, de uma ideia que lhe era sangue, e depois... trevas, elle, só elle nas sombras da iris. E Ladice pensava:

“O amôr n´elle será uma exaltação.”

Trataram de literatura. Theophilo discorreu sobre os grandes mestres, os genios de todas as epochas e de todos os povos. Falou sobre a influencia de Nietzsche nos escriptores modernos. Os seus processos ineditos de analyse, a sua interpretação pessoal, exclusiva, sobre os phenomenos do individuo, da especie, da natureza; a sua critica por vezes rancorosa e injusta, o seu gosto irreverente em desfibrar heroes e os tormentos inominaveis de sua alma anciada de perfeições... Contou-lhes tambem da bibliotheca magnifica que possuia.

Francisco levantou-se e foi buscar, afim de lhe mostrar, um livro curioso, cuja encadernação datava do seculo XYI.

Os dous ficaram sós... Os seus halitos se confundiam antes de seus espiritos.

Elle a achava deliciosa, com reminiscencias da virgem: membros delgados, elasticidade, traços classi-