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Prefiro a sua á de todas as eminencias... E´ devéras admiravel... Sim, virei amanhã... E saiu.

O dualismo, a belleza espiritual de Ladice o inebriavam. Era qualquer cousa de novo, de fresco que se lhe apresentava á analyse. Elle a achava um typo original, cosmopolita, que tinha, em o ser, a violencia dos bogarys, o calor das rêdes, a flexibilidade dos bambús, a nostalgia das violas, a acidez das mangas, as sonoridades agudas, estonteantes, do canto da cigarra, assim como a revereneia, o mysticismo impenetravel das cidades syrias, e o colorido, a claridade, a abundancia das flôres de Nippon. Era a mulber que elle procurava desde que saira da adolescencia; era o mal estar eterno que sempre lhe coroava os prazeres por mais subtis que fossem; era a inconstancia, o movimento, o desasocego, o rancor surdo que lhe minavam o peito e que, ás vezes, o faziar um revoltado; era a flamma que o queimava em as noites de Julho, quando amparava com mãos ardentes, a cabeça pesada de desejos e de amôr por um ser que nunca eucontrára, por uma amante desconhecida que tivesse as formas da Belleza e da Intelligencia.

Ha alguns annos atrás elle a vira uma vez, porém rapidamente, e não passou tres noites sem dormir como aconteceu a Goethe quando vio o retrato de Mme. de Stein; porém recordava-se que recebera uma funda impressão, apesar de lhe não haver conhecido o maior encanto, o traço dominante de sua extructura, o relevo de sua individualidade: a attracção estranha de seu espirito, de seu modo de ser. Ella encarnava o estro de sua epocha: — poema, ardor, musica, flôr