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a sua alma corria, se prendia em esses labios perfeitos que eram os fermentos de seu amor. Com a voz um pouco tremula perguntou-lhe baixinho:

— Que pede ás estrellas, amor ou luz, como Shelley?

Depois de consideral-a algum tempo:

— Luz, amor, disse elle lentamente, — não, que já os tenho. — Mudando de tom, com vivacidade e desespero: — O que eu peço e rogo aos céos, ao destino, ao inferno, ao mundo, á vida é a mulher que desejo, que amo... Se fosse preciso que tudo perecesse em uma convulsão, que o firmamento, o mar, os rios, se unissem, rolassem, formassem uma só massa, que as estrellas caissem, que os coriscos ateassem fogo em o universo inteiro, que os abysmos se abrissem e vomitassem dragões, que os basiliscos fulminassem a humanidade com o seu olhar fatidico, que os ventos se libertassem dos odres de Eolo e dizimassem a terra, que eu morresse coberto de lepra, de ulceras, asqueroso, abandonado como Yolanda de Sallière... Pouco se me daría, comtanto que tivesse apertado ao menos uma vez em meus braços as formas animadas dessa mulher adorada, que eu tivesse sentido passar sobre o meu rosto a desordem de seus cabellos, o sopro ardente de sua boca... — Com ar desvairado, tocando de leve em o braço de Ladice, continuou baixinho, quasi a murmurar. — O´ mulher divina, recebe o meu amor, a eurythmia de meu corpo é de meu espirito... Guarda em teu coração a minha alma ajoelhada a te adorar eternamente, as pulsações de meu sangue em dizendo o teu nome... Governa o meu poder, a minha