Página:Exaltação (1916).pdf/199

Wikisource, a biblioteca livre
— 191 —

vontade, a minha idela, como se fossem teus servos, teus subditos, teus libertos... Sê minha, mulher formosa, que trazes em teus gestos, em teu perfil a ballada, o estribilho vertiginoso que mata... — A cabeça de Ladice lhe tombou em o hombro, as suas mãos se apertaram, os seus olhos pararam um dentro do outro, em o transe de um extase.

Eros pairava sobre elles, esparzia-lhes os lirios, os cravos, as clematites, arrancadas de suas guirlandas e esbraseados pelos seus dedos; despejava-lhes sobre as cabeças a sua aljava cheia; os momentos amorosos, os suspiros esmorecentes, as doces intolerancias, as impaciencias sublimes de um coração, para outro coração, a ternura mortal de duas almas que se esmagam como petalas de rosas, adejavam, esvoaçavam, subiam e desciam ao redor de ambos, quaes mil borboletas impertinentes e afugentadas...

— “Luz, força, poder de minha juventude, eu te amo...” balbuciou finalmente Ladice, afastando-se, desprendendo-se, sentando-se sobre o banco...

A attitude calma e natural de Dinah e do diplomata, que conversavam de costas viradas, em pé em o outro lado do bote, tranquillizou Ladice, convenceu-a da ignorancia, do alheamento delles sobre o que acabava de passar-se. — Ella sabia que a pouca idade quando se junta, gosta de exhibir erudição, de provocar admiração, de fazer valer os dons, a sciencia, a intelligencia que possue, de mostrar o germen que o tempo, os annos, o estudo virão a desenvolver: são vaidades que se investem, que lutam, que buscam a victoria, que

A. B. —13