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se alardeam... Elles conversavam como bons amigos, apesar de alguma timidez da parte de Dinah. Quanto ao machinista e seu companheiro, Ladice pouco se importava: o mais velho cuidava da sua tarefa com solicitude; o outro, o mais moço, rapaz de 20 annos, ainda em o vestibulo da vida, sem as sevicias do trabalho e do infortunio, bello especimen da geração nova, olhava-a a miúde com curiosidade e malicia...

Theophilo se approximou e sentou-se ao seu lado. Ladice immobil, encarando o vacuo com as palpebras meio descidas, ao parecer de quem bebe o extase de todas as sensações, reprimia os impetos de seu sentir...

Theophilo tinha a alma cheia de rythmos ineditos; o seu espirito, a sua imaginação se rendiam ao estro maravilhoso, ardente, estonteante do poeta do amor e seus mysterios; á meia voz, no ouvido de Ladice, poz-se a recitar-lhe em inglez os seguintes versos de Swinburne:

“If love were what the rose is,
And I were like the leaf
Our lives would grow together
In sad or singing weather...”[1]

Ladice o não deixou acabar, interrompeu-o, aproveitando essa conjuncção para declarar-lhe a grandeza de seu sentimento, a identificação, a unidade radiosa de seus seres e ella disse:

  1. Se o amor fosse o que é a rosa, eu fosse como a folha, nossas vidas cresceriam juntas em o tempo triste ou cantante...