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E em o fim, escripto a medo e ás pressas, temendo a irresolução, a razão, lançada pelo desespero do soffrimento esta phrase:

” Venite ad me!”

”Venite ad me!” disse ella exultando, transida, meio allucinada. Elle me chama pelas palavras divinas... “Venite ad me!”, repetiam-lhe as pulsações, o movimento de seus museulos, o latejar de suas veias, o seu sangue, as suas cellulas... Venite ad me! gritava-lhe o coração em uma explosão turbulenta, atordoada, louca... Venite ad me! murmurava-lhe o espirito como um écho apagado, fraco, longinquo, que não sabe o que diz... Venite ad me! lia ella em letras de fogo nas paredes, no tecto, no chão, na alvura de suas mãos... Venite ad me! segredava-lhe o silencio... Venite ad me! suspiravam os minutos... Venite ad me! dizia ella baixinho, vertiginosa, a sorrir...

”Oh! sim, levar-lhe-ei a belleza de meu perfil, o encantamento, a ternura, a flamma de meu coração... As minhas mãos maravilhosas depositarão sobre a sua fronte abrasada o raio frio da aurora, o pollen dos helianthos, o azul, o oxygenio do ether... Meus cabellos lhe farão descer sobre as palpebras a sombra mystica dos salgueiros, a somnolencia lyrica dos corações que se apertam... Minha boca lhe verterá o sopro da immortalidade... Meus olhos reterão a sua vida, far-lhe-ão voltar a saude, serão os amuletos contra o maleficio, contra o braço funereo da morte... O meu amor esparzirá sobre seus membros febris, agitados—a calma ardente, o silencio victorioso, o espasmo eterno, o delirio absorvente, suave, inebriante, das pul-