Página:Exaltação (1916).pdf/210

Wikisource, a biblioteca livre
— 202 —

dizes: — “Vinde, bebei, conhecereis o amor e vivereis deixareis de ser um verme para serdes um deus...”— De teus braços nervosos, enroscados de aspides, pendem tamaras glutinosas, mordidas pelos teus dentes salgados pela tua saliva, e tu as jogas ao passante como sendo o fruto do bem e do mal... Teu labio é avermelhado pelo sangue dus victimas, que as rainhas de antanho faziam immolar a seus pés, pedindo-te a eternidado do ardor e da renovação... Tua boca tem o estertor daquellas amantes que se faziam cortar as veias por amor de seus amores... Nas tuas formas palpitam a areia adurente, a oppressão offegante, o céo, a brisa, a palmeira, o ibis, o rio, a florescencia das paisagens etruscas... 'E´s a minha joven Hamadryade, ha vinte annos que as vozes clamorosas de meu coração te gritam; o meu amor te buscou em todo o universo, meus olhos, meu espirito, te procuraram como dementes... Encontrei-te, finalmente, vieste a mim e eu te retenho... Viverei ao teu lado, agarrado á tua saia, como se fôra esculpido em ti, o joelho curvado, adorando-te... Todo o meu ser se queimará em sacrificio, morrerei sob a tua sombra triumphante, minha jovem Hamadryade...

Theophilo levantou-se e poz-se a tirar dos vasos todas as rosas que os guarneciam: Eram rosas lindas, passionaes, desesperadas, rosas que traziam as pisadas de Eros, a melodia dos ventos, os movimentos harmoniosos dos dias e das noites, o ardor do sul, da terra, da herva fresca. Mutilando-as, elle as desfolhava sobre Ladice, dizendo: