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— Rosas, cobri essa Rosa de Fogo do paganismo, essa Rosa Sublime da eternidade, essa Rosa de estufa, que perfuma o meu coração, essa Rosa da Manhã, quente, humida, petulante, como a boca de um Fauno!...

E as petalas das rosas caiam sobre Ladice, rolavam-lhe pelos hombros, pelos joelhos, enchiam-lhe o collo, cobriam-lhe as mãos, amontoavam-se a seus pés, como gotas concentradas do sangue de seu amor, como fragmentos de um coração, que uma grande dôr decepasse. Abrindo, em seguida, uma gaveta, elle tirou um vidro de essencia, e, derramando-o sobre Ladice. dizia:

— Corre, mistura-te a esses cabellos, que teem molleza, exaltação, phrenesi, entra, perde-te nesse corpo unido, divinamente pallido, deslumbrante, como se trouxesse no intimo um sol vigoroso, esplendido... Não manches, não empanes o brilho dessa pelle fresca e queimante como o alcool...

Tirando de um estojo um collar de perolas, elle o arrebentou no seio de Ladice:

— Rolai sobre esses membros esguios, perolas symbolicas: — Sois os annos, as horas, o tempo em que vivi em lamentos, em queixumes; sois as lagrimas petrificadas, os soluços, as tristezas, as inclinações funestas; sois as estravagancias pensadas, idealizadas, a aspiração esteril, as ambições não realizadas, o estimulo desejado, a immoderação, a alternação dos prazeres, as intolerancias, o grito incisivo de revolta contra Deus e a humanidade; sois os tumultos, as forças, os poderes, que me devastaram a juventude... Rolai,