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perolas, quebrai-vos á guisa de estações que se findam, que se destroem, á guisa do arvoredo que fenece, murcha e seca, para depois renascer, exuberante, dominador, immenso.

E as continhas espalhavam-se, corriam pelo corpo de Ladice, festejando a sua glorificação, o seu baptismo de amor, a sua iniciação no mysterio, o mais profundamente estonteante da existencia.

— E´s a minha propriedade egoista, mulher formosa. Parece-me descobrir em ti a imagem do amor, fixa no centro da Vida, unica, sem ligação com o passado e o futuro, assistindo ao correr dos seculos, das cousas, dos seres animados, incolume, illesa, suprema, magnifica...

Depois de uma pequena pausa, sentando-a sobre os joelhos:

— Não te deixarei partir, ficarás aqui comigo, ao meu lado, nunca mais me abandonarás... Nunca mais...

Dizendo isso, elle apertava-a loucamente, cingia-a com os braços, em uma exaltação extraordinaria.

Ladice, ainda vencida pela vehemencia de sua sensibilidade, não podia falar, e retribuia esses excessos de amor com afagos lentos, com beijos longos, deliciosos, que nunca se acabavam, beijos ardentes que deixavam de cada vez, um pouco de seu coração, de sua alma, de sua ternura.

Mas a insistencia, a continuidade, a excitação insolita com que elle repetia esse “nunca mais”, despertou-lhe a attenção e desceu-lhe até o amago da consciencia, sacudiu-lhe a intelligencia e ella inteira se