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agitou perturbada, angustiosa, aterrorizada, reconhecendo-lhe o delirio, a febre:

— Sim, nunca mais te deixarei. Sou tua; ficarei aqui, cuidando de ti, adorando-te... repetia ella, accentuadamente, com carinho, com amor, com desvolo, tratando de convencel-o — mas estás fatigado, vem, deita-te.

Ladice, ao seu lado, como uma grande sombra, aninava-o, cantava baixinho, apertava-o, rosto contra rosto, beijava-lhe silenciosamente, pausadamente, o canto dos olhos, das orelhas, os cilios, os cabellos, espalmava-lhe as mãos pelo dorso, como se com este gesto quizesse abrangel-o por inteiro, absorvel-o em si, sondar-lhe a profundeza do sentir, da alma, misturar-lhe as sensações, ter sensações, ter a impressão de posse, de propriedade; toda a sua alma ia para elle, se estacionava sobre elle como uma caricia' tardia, estavel, parada, que se não finaliza; seu coração se fendia, se destruia... Era preciso partir, deixal-o, a elle, o amor de seu amor, a sua exaltação vibrante; seus grandes olhos se collavam nesse corpo extendido, perfeito, tranquillo, calmo, a forma affectada do fogo que a consumia; eram olhos cheios de expressões sombrias, dolorosas. Dir-se-ia que assistiam a scenas sangrentas, patheticas, a choros de viuva desolada, a separações eternas, a mortes crueis...

Essa grande amorosa, que ainda tinha a sua vertigem impregnada da vertigem de Theophilo, que ainda sentia palpitar, na distensão de cada nervo, a