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de adolescente: — Habitaremos um parque onde andarás alegre ao deante do sol e das estrellas... Teu bello corpo esguio e branco atravessará qual flexa de belleza e de crystal as arcadas pudicas e ardentes do bambual... Teus pés de deusa grega, pisarão re-novos verdes, gommosos, glandes de ouro que estalarão enternecidas sob o peso de teu calcanhar roseo, roliço... Brincarás com libellulas, com phalenas trefegas, com aragens fagueiras, mansas, suaves... A tua figurinha maravilhosa, receberá, á tarde, a saudação do sol que tomba, a sua bençam rubra, amorosa, o seu beijo de fogo, o seu estertor real... E assim consagrada, transfigurada, ardendo de luz e de mysterio, cortarás o occidente como sendo o perfil da Intelligencia e da Dominação... — A sua voz se tornara um murmurio. — A´ noite, porém, acanharás os membros de susto, não reconhecerás o arvoredo que tanto amas... Verás espectros vestidos de estamenha, de sudarios, bailarem, horrendos, esqualidos, membrudos; sombras multiformes esgueirarem-se, parárem ao longo de columnas manchadas, herpeticas, carcomidas... Braços avançarem ameaçadores, dizendo não... Bocas disformes escancararem-se silenciosas; troncos sem cabeça presos de convulsões, quedarem-se de repente quietos em uma phase evolutiva... Perto de ti rangem, como dentes de serpentes que teem fome, como ossos que se sacodem... Ao teu lado um olho se abre, um outro se fecha... terás medo; seguras com mais força os meus pulsos, o meu hombro; escondes a cara em teus cabellos, em meu peito... Ruidos surgem, levantam-se, espalham-se ao