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redor, sinistros, tetricos, horridos; folhas que farfalham, animaes que rastejam, silvos, asas que batem... Dir-se-ia, que um coração colerico, palpita em todo o espaço, que o tic-tac de um pendulo desordenado marca os momentos que se gastam... E eu com o senso da exaltação por te sentir verdadeiramente mulher: — fragil, estonteante, formosa, timida, beberei o extase supremo em a posse de teu amor e de teu medo... Serás a minha Isolda que preferia o seu amante ao seu Deus; as chammas do Inferno ao sorriso dos Anjos... Tu e eu seriamos um só, despertos, dormindo, em os sonhos: nenhuma espada separaria o teu corpo do meu corpo...

Ladice sentia, a medida que Theophilo lhe falava, abrir-se-lhe em o intimo, enxames de rosas brancas, amarellas, violaceas, carmezins, simples, em botão, dobradas, enormes... Do pé á cabeça se lhe agitava entrepitoso roseiral...

— Vem — repetiu Theophilo tendo em a voz, em o olhar a vontade feroz, desesperada de quem implora a graça, a vida.

— Não, não posso — balbuciou ella, fatigada, os olhos fechados, os braços pendendo, os cabellos desfeitos, profundamente abalada pelo soluço da angustia.

— Tu e eu seremos então dous como o céo e a terra? — disse elle retendo-a, machucando-a.

— O futuro, qu´importa? — Exclamou ella estremecendo. — Gosemos do presente, bebamos esse mel oriental, divino, allucinante que os deuses nos offerecem. até ao olvido, ao esgotamento, á destrui-