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ção... Abramos os nossos corações, ás farpas igneas que o Amor despede, vivamos em o vestibulo do presente... O futuro, o futuro... A morte, talvez, quem sabe?— E lagrimas corriam-lhe pela face.

Ao ouvir-lhe a ultima phrase, Theophilo, sem saber por que, percebeu que o seu musculo da alegria se movera... Elle não quiz insistir, o sentimento feminino é timbroso e susceptivel; somente uma persuasão lenta se tornaria efficaz; aos poucos insinuar-lhe-ia o seu desejo de união perpetua — synthese brilhante de sua vida de amôr.

Essa tarde, Theophilo saiu mais cedo, afim de livrar-se de algum amigo que porventura apparecesse. Queria ficar só.

Aquella palavra de Ladice “a morte” lhe provocou uma infinidade de ideias novas, definiu-lhe pensamentos confusos, inscientemente gerados, elaborados á socapa, sob a influencia do grande temor que tinha de perdel-a, de vel-a sobreviver á sua juventude...

“Ah, se ella morresse! E ca esforços, a vida, a volição, a felicidade, a salvação de seu eu, pareciam depender d´esse facto cruel. Andando a esmo, sem rumo, pensava:

“Ladice universo meu, triumpho magnifico de minhas aspirações, doença de minha alma, quizera-te portanto morta! Que a morte te leve, antes que o amor se estagne em teu sangue, antes que o teu fremito entibie, perca a celeridade, o repente, antes que o meu nome te seja um fragmento, uma recordação, uma saudade... Ah! se ella morresse! E dentro de seu intimo um enorme luzeiro se propagava. — Sei que o ar-