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A um movimento de Theophilo, a Senhora de Assis, disse-lhe com a voz entre-cortada:

Durante estes quinze dias te não poderei vêr... Quero trazer-te vivo, palpitante, em o ser...

— Como? Quinze dias sem nos vermos? Será possivel? — exclamou elle apertando-a instinctivamente ainda mais...

— Escrever-te-ei sempre... Lembra-te de Petropolis e serás feliz...

Theophilo se submetteu a esse capricho, a essa exigencia anormal de sua amante: Possuil-a em os braços e deixal-a escapar como uma virgem que se teme profanar...

Ladice saiu levando em si, vidas multiplas; Sentia tanger-lhe de ponta á ponta, as oscillações, os timbres, os sons de toda a terra... Em o sangue bramiam-lhe as vozes, os alaridos, a grita das multidões... Vibravam-lhe em os nervos, orchestras juvenis, arrebatadas, dominadoras. Theophilo renascia, infundia-se-lhe em o senso, em os plasmas com a celeridade dos phenomenos naturaes. Ella lhe era a reverberação, a resonancia da individualidade, o timbale bronzeo percutido por baquetas férvidas, apaixonadas, impacientes... Era uma forja accesa, um ambiente, fragoroso, um beijo delirante, que se humanizava...

* * *

A Senhora de Assis passava os dias inteiros em