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dade das cousas brutas, mortas, insensiveis, quando movidas por forças naturaes.

— “Meu Deus, como eu o amo! como eu o amo! — exclamava ella de vez em quando, e o seu corpo tomava, então, a ondulação rapida nervosa de uma vela que o vento enche e desenche.

Em o dia seguinte de pé, em a varanda entrelaçada de rosas e jasmins de uma “villa” elegante, Ladice dizia a Francisco:

— “Já notaste como esta cidade parece um bouquet de flôres ardentes. E a gente até tem vontade de tomal-a em as mãos e acaricial-a e apertal-a contra o seio. Dir-se-ia que o rio aqui desce e entra em o nosso coração, qual flexa de alegria, a chamar-nos á vida, ao amôr... Repara como este rio eterniza as contorsões de um ser humano...

Ladice calou-se. Inconscientemente suas mãos se uniram, seus olhos se fixaram em as rosas que se agitavam e em seu amago, surgiu esta oração: “Cidade de amôr e de doce volupia, violencia de tuberosa virgem, encanto, refugio, embevecimento da sombra e da humidade, terra enamorada da agua e do sol, earboniza a sensibilidade de uma mulher que deseja fugir da vida por amôr de seu amôr... Côa-lhe em as veias a lethalidade de teu prazer agudo, incisivo... Faze com que ella pereça em os teus sopros de veneno e de paixão. — E os seus olhos se embruscaram melancolicos.

— E´ uma cidade poetica, bonita, mas horrivel-